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Dica de filme: Procura-se um amigo para o fim do mundo.

                          As pessoas se esqueceram de viver. Muitas só pensam em trabalho, quase nunca se sentando à mesa para almoçar. Outras nem ao trabalho se dão, preferem o conforto e aconchego de suas camas e dormem, dormem feito pedras. Todos sabem que a vida é curta; aproveitá-la deveria ser uma obrigação, um instinto impregnado no ser. Mas como sobreviver e poder desfrutar os manjares desta Terra sem muito suor e cansaço? É difícil. Aos meros mortais só resta a esperança de um futuro menos árduo e mais prazeroso, ou apenas as férias. Dos otimistas aos desgraçados, sem exceções, a morte é a única peça que todos aproveitarão de suas existências. Quando o fim é anunciado, a rotina pode ser desfeita e os últimos desejos, atendidos; desgostos são revelados, tristezas são enaltecidas, e o medo…a solidão é temida. O filme PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO mostra onde e como as pessoas darão seus últimos suspiros.
                        A notícia do fracasso da missão espacial de destruir o ameaçador meteoro Matilda decretou um prazo para o fim do mundo: 21 dias. Dodge, abandonado pela esposa após a tragédia ser declarada, segue sua rotina, sem ânimo ou revolta; não há mais alegrias e só lhe restou o pior de seus pesadelos, morrer sozinho. Em meio ao clima apocalíptico, ele conhece Penny, sua vizinha de longa data, mas com quem nunca se encontrara, e Sorry,  o cachorro entregue aos seus cuidados por um desconhecido. Penny sofre com mais um relacionamento desgastado e com um problema de saúde que a faz dormir profundamente, sem ser abalada por nenhum ruído.  Os recém-conhecidos se unem, então, para escapar da balbúrdia que se ergue nas ruas e realizar suas últimas vontades: Dodge parte em busca do amor de sua adolescência, nunca esquecido, e Penny o acompanha para ajuda-lo e ganhar em troca a oportunidade de ir passar os últimos momentos com a família já que seu novo amigo sabe onde encontrar um avião.
                       Esta dramédia-romântica não é extraordinária. Porém, dois destaques fazem valer vê-la: Keira Knightley e a trilha sonora. A dramatização da atriz de sotaque britânico delicioso é muito bem empregada a Penny. Não é difícil se encantar com os seus gestos. A vida da personagem foi marcada por relacionamentos intensos e fracassados, forçando-a a abandonar os carinhos familiares. Com o fim se aproximando, o que ela apenas quer é poder compensar os dias vividos longe de seus pais, passando os finais ao lado deles. Para ficar acordada, ela usa maconha – se a vida já é uma loucura aos olhos sem efeitos alucinógenos, imagine aos dela. Com estilo descolado, seus discos de vinil são os bens materiais que ela gostaria de eternizar; eles a fazem se sentir mais próxima de casa, e lhe dão sensações que nem o efeito da maconha é capaz de proporcionar. As músicas do filme foram tiradas da sensacional década de 1960 para embalar o final dos tempos: The Beach Boys, The Walker Brothers e The Hollies são ouvidos pela última vez.  
                          Steve Carell está bem colocado em seu papel de homem sem esperança, que sofre grandes perdas – a esposa e a vida – em um curto período de tempo, mas sem causar gargalhadas. Dodge não percebia os sinais de fracasso de seu casamento, assim como, de início, não percebe as novas emoções provindas do convívio com Penny. Com a morte da mãe e o abandono do pai anos atrás, só lhe restava sua esposa. Agora a morte está perto e a solidão o aterroriza. Conhecendo pessoas e suas diferentes maneiras de dar o último suspiro durante sua viagem rumo ao amor do passado, ele ganhará uma nova e feliz realidade, aproveitada até seus últimos segundos.
                         A morte é inevitável, avassaladora e egoísta. Um dia ela atingirá todos. Não esperar o fim chegar para passar ao lado de quem ama pode diminuir a melancolia futura; jogar xadrez com quem sempre o acompanha, sair de um casamento infeliz e banhar-se sob a luz do luar, essas são imagens que você gostará de lembrar. PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO não é arrebatador, contudo, possibilita enxergar uma interpretação adorável de Keira Knightley – a cena em que ela transmite a tensão e o medo da morte, aliados com a musicalidade retrô, é fascinante. Confesse seus pecados! Corra para as colinas! O fim está próximo – em um cinema perto de você.

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